Se o subdesenvolvimento existe há séculos, não há jeito de acabar com a fome – uma de suas principais características – em quatro ou oito anos. Acredito que o slogan “Fome-Zero” adotado foi uma escolha pouco inteligente pela simples razão de que a fome no Brasil nunca chegará a zero, pelo menos num espaço de três ou quatro gerações, mesmo se for implementado um programa super-eficiente, super-abrangente, ininterrupto e de longuíssimo prazo. Ainda assim, depois de 30 ou 40 anos priorizando o programa, a fome não diminuiria 100%. Seria reduzida apenas parcialmente. As raízes da fome estão nas condições de atraso e pobreza do nosso povo. Para eliminar a pobreza é preciso efetuar mudanças profundas de mentalidade, uma gigantesca tarefa que leva séculos para ser cumprida.
Enquanto houver analfabetismo haverá fome. Enquanto houver desigualdade social e falta de educação haverá fome e miséria. Enquanto houver subdesenvolvimento, em qualquer aspecto, haverá gente passando fome.
E enquanto houver fome haverá violência e criminalidade, que – dentre as conseqüências imediatas e perceptíveis da injustiça social – representam a mais terrível e danosa forma de protesto.
Violência, criminalidade, uso de drogas, etc., são filhos bastardos nascidos da mesma mãe que gerou a fome, o analfabetismo, a má distribuição de renda, a pobreza. Mesmo nos chamados países ricos existem desemprego, pobreza e fome, assim como existem violência e criminalidade em qualquer sociedade onde os de barriga cheia convivem com os de barriga vazia.
Na realidade, a pobreza, o analfabetismo e o desemprego é que devem ser combatidos com vigor, se quisermos verdadeiramente lutar contra a fome, a violência, a falta de civilidade e outras mazelas. Poderia ser idealizada uma competente política de criação de emprego e renda, objetivando desencadear uma série de incentivos à criação de um sem-número de micro e pequenas empresas, apoiando também a operacionalização inicial desses pequenos negócios para que não fechem as portas poucos meses depois de criados.
Alguém desempregado que trabalhou vários anos, por exemplo, numa panificadora, já sabe como conduzir uma atividade dessa, sabe como comercializar o resultado do seu esforço, mas não tem a mínima condição de iniciar um negócio próprio embora viva sonhando com isso. Ou o cidadão que aprendeu o ofício de marceneiro e gostaria de montar a sua própria oficina. Outro que tivesse aprendido a trabalhar como serralheiro poderia instalar, no quintal de sua própria casa, uma pequena fábrica de esquadrias metálicas, mas falta-lhe a ajuda financeira para adquirir os equipamentos.
postado por :VInicius
Autor:Desconhecido
Nenhum comentário:
Postar um comentário